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19 de janeiro de 2014

INDIA: BERÇO DA CIVILIZAÇÃO!!


Índia: Berço da Civilização, Ou, A Posição Excelsa da Índia para Estudo da Religião

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Hridayananda Dasa Gosvami

A civilidade da Índia aos olhos do embaixador grego Megástenes e do peregrino budista Fa Xian, e por que a Índia é o melhor lugar para estudar a religião em geral.

A Índia, em um sentido, é o melhor lugar para estudar a religião em geral, por várias razões. A Índia tem talvez o sistema de rios mais favorável do mundo, e terra boa, com todo tipo de recursos naturais e todo tipo de clima. A Índia sempre teve, relativamente através da história, uma população numerosa. A Índia não apenas sempre foi um lar para muitos seres humanos, senão que sempre existiram na Índia muitas pessoas de inteligência destacada, como sabemos estudando a história mais antiga.
E sempre existiu liberdade na Índia. Observamos no Mahabharata, por exemplo, que um cidadão podia sair na praça e criticar o rei e o governo. Isso é algo que acontece várias vezes noMahabharata e não há nem mesmo a menor sugestão de represália. Liberdade de religião é uma situação completamente inconcebível na história do Ocidente ou do Oriente Médio. É inconcebível na história de outras partes do mundo uma religião criticar diretamente a religião dominante, à qual quase todos pertencem, começar a pegar para si muitos seguidores, e assim crescer e se tornar uma religião importante, e não haver nenhuma guerra entre a religião original e a nova. É claro que há exceção de um rei fanático com outro rei fanático, mas, em geral, a história da Índia é muito diferente da história da Europa, ou, para ser justo, a história da Europa depois da entrada e do prevalecimento do cristianismo.
É interessante que essa liberdade faz parte de uma cultura original hindu-europeia, então, estudando a história do Ocidente antes de ser cristianizado, havia liberdade de religião. Interessante que, nos dois polos da cultura hindu-europeia – tanto na Índia quanto na Europa –, havia liberdade de culto, de religião, a qual foi simplesmente terminada com o predomínio de uma religião fora da cultura hindu-europeia, que veio do Oriente Médio. Uma religião do mundo que tem tradição de sectarismo violentíssimo, um tipo de religião tribal deveras violenta de simplesmente matar as pessoas que têm outra religião.
Outro fator é que sempre podemos observar na Índia um interesse muito intenso na religião e na espiritualidade. Trata-se de uma cultura que milênios, ou muitos séculos, antes da formação ou do desenvolvimento formal da ciência humana da Psicologia no Ocidente tinha sujeitos inteligentes estudando a consciência através de meditação e yoga, um estudo milenar da consciência. Um reconhecimento muito anterior a Freud, por exemplo. Freud fez uma revolução no mundo ocidental mostrando que, apesar de normalmente pensarmos ter consciência de que pensamos “isso”, acreditamos “naquilo” e não aceitamos outra coisa, fatores subconscientes realmente estão influenciando e determinando nossas decisões, comportamento e consciência. Apenas para exemplificar, o papel dos samskaras, ou condicionamentos profundos, na ciência do yoga é que nosso comportamento, nossa consciência, nossos sentimentos são determinados por fatores inconscientes.
Outro ponto importante: Se você olha o mapa do mundo e tira a Austrália e o hemisfério ocidental, sobra uma enorme massa de terra com África, Europa e Ásia, e se você olha esse mapa, a Índia está mais ou menos no centro do mundo.
Então, juntando esses fatores, para não falar que a Índia estava milênios à frente da Europa na linguística, temos um país de uma população suficientemente numerosa para conter uma variedade completa de tipos humanos, de psicologia, de tendências intelectuais, físicas, religiosas. Como nas ciências, você tem que ter uma população suficiente para tirar conclusões universais, e a Índia sempre teve essa quantidade de pessoas, uma população de muita inteligência, de muito interesse na religião e liberdade de religião. Então, o número é suficiente, o interesse é suficiente, a inteligência é suficiente e a liberdade é suficiente para investigar, considerar e manifestar quase todo tipo possível de religiosidade humana. É por isso que a Índia é o lugar ideal para estudar a religião em geral.
Talvez a primeira vez que a Índia aparece no radar da historiografia no sentido moderno da palavra foi mais ou menos 2300 anos atrás, quando um senhor chamado Megástenes, embaixador grego, foi à Índia. O verbo grego grafos é escrever, em razão do que “historiografia” não é a história, mas “escrever a história”. No mundo, temos certos conceitos de diferença entre História e Mitologia, ou descrições simplesmente humanas e escrituras metafísicas. Essas categorias ou distinções têm muitos problemas lógicos e não são de modo algum categorias limpas e óbvias, mas, sem entrar nessa discussão, eu simplesmente gostaria de dizer que, no sentido moderno da palavra historiografia, a primeira vez que a Índia entra na historiografia que realmente não tem qualquer ligação com religião, com escrituras, mas em que simplesmente alguém escreveu um livro descrevendo o que acontecia na Índia, foi pela escrita de Megástenes.
Não estou dizendo que a informação que temos em livros como o Srimad-Bhagavatam não seja válida – para mim, é válida –, porém estou dizendo em termos humanos apenas.
Megástenes foi embaixador grego da corte do império dos Máurias, que floresciam na Índia com um grande império baseado em Pataliputra, hoje Patna, capital de Bihar. Megástenes escreveu um livro sobra a Índia chamado Indika, que significa “Sobre a Índia”. Esse livro foi um “best-seller”, muito popular. O livro original não sobreviveu, mas o livro original foi muito citado, então temos grandes trechos do livro e podemos comparar muitas citações, devido ao que ninguém questiona que é possível sabermos muito sobre o que ele escreveu.
Li o que temos desse livro e gostaria de apresentar algumas citações do livro. Acho muito interessantes o quadro que ele pinta, a informação que ele dá sobre a Índia cerca de 2000 ou 3000 anos atrás. O que ele descreve eu acho que é sem dúvidas o país mais civilizado do mundo.
“Os habitantes têm meios abundantes de subsistência”, ele diz, “e têm muita abundância de alimento, em decorrência do que são mais altos do que a média”. Muito diferente de hoje, não? Ele continua: “Os indianos se distinguem por sua maneira nobre de se portar”. A descrição é que eles têm uma conduta nobre e são pessoas altas.
Ele comenta sobre a lei também. Ele está na capital do império, logo o que ele observa é válido em quase toda a Índia, haja vista que as leis da capital eram a lei do império. Ele diz que a lei prescreve que ninguém entre eles, sob nenhuma circunstância, será escravo. Este ponto é muito importante porque, algumas vezes, catedráticos ou ocidentais traduzem as palavras dasa ou dasi como “escravo” ou “escrava”, mas, na realidade, existiam certos contratos ou certas obrigações sociais, como podemos ler no Srimad-Bhagavatam quando se descreve que Vasudeva casou-se com Devaki, e o pai de Devaki enviou certo número de servos e certo número de servas, mas não eram escravos. É como hoje em dia, quando uma firma compra outra firma e os empregados da firma comprada ficam muito ansiosos por permanecer empregados na nova firma, a firma compradora. Inclusive vi nos Estados Unidos que, quando uma firma compra outra, a maior ansiedade é que os empregados perderão seu emprego. Essa transferência de posições de emprego, de obrigações sociais, é uma coisa comum até hoje e não deve ser interpretada como escravidão.
Megástenes descreve que a lei na Índia prescreve que ninguém deve ser escravizado, e os gregos adoravam escravos. Atenas, por exemplo, é sempre colocada como a cidade que é o modelo perfeito de democracia participativa, dado que Atenas não era uma república com representantes, senão que os cidadãos de Atenas subiam o morro do Partenon e participavam diretamente da democracia, votando diretamente, e não através de representantes. Há um detalhe: os cidadãos de Atenas tinham tempo o bastante para poderem subir o morro, votar e discutir porque tinham muitíssimos escravos em casa. Então, a escravidão era a base da democracia participativa. Escravidão é um tópico à parte, e há coisas interessantes sobre o status de escravo em Roma, onde houve um caso em que um escravo chegou a ser imperador de Roma. É um tópico complexo, mas queria apenas explicar que, segundo Megástenes, vindo de um contexto cultural grego, a situação na Índia era muito diferente, pelo fato de não haver escravidão.






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